4º Encontro de Capoeira Angola e Relações de Gênero em Porto Alegre

Segunda feira – Dia 08/03/2010
Para enfim todxs aquelxs que desde o ano anterior se encontravam, e que com muito carinho se dedicaram na organização pudessem entrar no clima do evento porvir - e para os que nada sabiam, perceberem que algo importante estava pra acontecer - nos concentramos no Largo Glênio Peres em frente ao Mercado Público de Porto Alegre e quando o sol já anunciava sua fuga daquele que entre tantos foi escolhido não como um dia para as mulheres lutarem por suas causas, mas para lembrarem da luta que é travada diariamente e que busca sua contemplação em mudanças, não em rosas, era hora de nos armarmos com nossos berimbaus e pandeiros, nosso atabaque, reco-reco e agogo para anunciarmos a nossa luta, a nossa busca por mudanças. E com nosas armas que não atiram mas cantam, começamos nossa caminhada, cantando para quem quisesse ouvir, chamando a todos para a celebração de uma luta diária que teve para si uma semana reservada, para que pudesse ser vivida intensamente e nunca esquecida. Ao chegar na Esquina Democrática, local de tantas histórias, a tomamos como palco para contar a nossa e a contamos em roda, e com muita capoeira, lembrando do que já acontecera nos anos que se passaram e do que estávamos prestes a presenciar.

Era a chamada para o 4 Adão, Adão, Cadê Salomé, Adão? Convidando a quem quisesse para escrever junto mais uma página dessa história.
Segunda-Feira, dia 15/03/2010:

Iníciamos as atividades com uma roda de capoeira no Memorial do RS. E como se não bastasse a presença de todxs que diariamente fazem parte dessa história, tivemos também a presença da Mestra Janja, do Instituto Nzinga de Capoeira Angola de Salvador e da Contra-Mestra Dana, da Associação de Capoeira Angola Mestre Marrom e Alunos do Rio de Janeiro, que ainda pode nos acompanhar durante todo o evento. Acredito ser desnecessario dizer o quão bonita estava a roda, com todas aquelas pessoas e todo aquele axé.

Ainda no clima da roda, nos acomodamos para que a Mestra Janja pudesse apresentar o material por ela organizado trazendo sua contribuição nos temas do evento ( Relações de Gênero, Identidade Negra e Saúde na Capoeira Angola ). Sua fala trouxe muito do histórico de lutas e organização das mulheres na Capoeira Angola e reforçou a importância de fazer reconhecer as demandas e lutas, seja dentro da capoeira ou fora dela (Grande Roda).


Convidadas para que pudessem fazer também suas contribuições a partir da fala da Mestra Janja, estavam a Socióloga Aurea Maciel (Cord. NESIN da Escola de Saúde Pública / RS ), que trouxe a importância e a relação entre saúde e autonomia, não só na capoeira, até porque fala pela sua experiênca, que reside fora deste âmbito; Clarissa da AKANNI questionando sobre a presença dos negros da Capoeira Angola, foi um tema importante no debate da noite, e voltou a ser lembrado diversas vezes durante o evento; ainda estava presente a psicóloga Eliane da Organização de Mulheres Negras – Maria Mulher.

Contando com uma boa participação não só de quem compunha a mesa, algumas outras questões foram levantadas pelxs presentes, como a da cautela que se deve ter com tradições - tema do último Adão, Adão.



Terça- Feira dia 16/03/2010:
Recebemos a visita da Prof. Giane do Grupo Nascente de Palmares de Canoas, para a primeira das Vivências de Capoeira Angola programadas para a semana, é sempre muito bom estar trocando experiências na Capoeira, e tenho certeza de que todxs aproveitaram e gostaram muito do que foi preparado por ela.
Devido a troca de horários na programação, aproveitamos para vadiar um pouquinho, uma roda rápida, mas suficiente para deixar todo mundo no clima pra roda de conversa porvir.
Na roda de conversa da noite, incentivada pela Doutoranda Miriam Alves / Oloriobá ( PUCRS / Áfricanamente ), tivemos a oportunidade de conversar muito sobre saúde. O que entendemos por saúde, a importância que a consideramos ter e sua relação com a Capoeira.
Sobre como saúde não é simplesmente não estar doente, a importância da busca de um equilíbrio entre o corpo e a mente e as dificuldades encontradas para livremente buscarmos e trabalharmos esse equilíbrio. A dificuldade de se encontrar completamente saudável quando presos a uma forma de organização que nos é dada sem escolhas, e que vem há tempos causando um desequilíbrio entre as pessoas e com o lugar em que vivemos. E como a Capoeira aparece como um folêgo nessa busca pelo equilíbrio e saúde e para xs que acreditam que as coisas não precisam ser assim.

Quarta feira – dia 17/03/2010:

Continuando com a programação das Vivências de Capoeira Angola, na Quarta-Feira foi a vez da Mariposa, aluna do Prof. Téu do grupo Angoleiros Sim Sinhô de Florianópolis - SC assumir e contagiar a todxs com a energia maravilhosa que - juntamente com Jacaré, Aline e Paty - trouxe de Floripa e que ainda ditou o ritmo da Roda de Capoeira "Vem Vadiar Com as Salomés", que como não poderia deixar de ser, foi muito bonita.


Na sequência, uma roda de conversa incentivada pela Prof. Paula Machado e a Doutoranda Heloisa Gravina, ambas da Antropologia da UFRGS e alunas da Áfricanamente Escola de Capoeira Angola, ainda com Claudete Costa, da Liga Brasileira de Lésbicas, onde muito foi falado sobre preconceito, gênero, sexualidade.


Quinta-Feira – dia 18/03/2010

A Vivência de Capoeira Angola foi coordenada pela Alessandra Carvalho do Áfricanamente, que como já é da casa soube praparar um treino não para trazer uma capoeira diferente mas mais focado para aprimorar mesmo a capoeira de quem estava lá.
Foi com todo esse axé que nos sentamos, e de luz apagada esperávamos pelo que estava na programação como uma Intervenção Artística. Sabíamos que seria sobre a Abayomi, boneca feita do trapo das negras que foram tiradas da África, para as crianças brincarem e aprenderem. Aprenderem sobre o que estava acontecendo, sobre tudo que foi ignorado nas ações que incentivaram sua vinda para o Brasil, sobre tudo lhes estavam privando.


Uma prática que sobreviveu até os dias de hoje, porque é um aprendizado que ainda se faz necessário.


Quando se acenderam as luzes vimos a Paty, acostumada a dar vida a trapos em forma de bonecas agora frente a um novo desafio. A partir dos nós carregados de intenção necessários para que se faça a boneca, agora daria a vida a uma boneca onde toda essa intenção se traduziria em olhares e palavras, com toda a lembrança e o aprendizado presente nas bonecas de trapo agora na indignação da fala e na revolta expressa pelo rosto.

Mais que uma Intervenção Artística organizada pela Paty da Abayomi e Mariposa, foi um aprendizado pra nunca ser esquecido por quem o presenciou.
Dando continuidade ao evento, foi a vez da Oficina de Dança dos Orixás com Babalorixá Diba de Iyemonjá ( Ilê Axé Iyemonjá Omi Olodô ), compartilhando seus conhecimentos com todxs ali presentes, proporcionando um momento muito bonito de descontração e ancestralidade.

Na Quinta ainda, tivemos a Oficina de Ritmo e Produção Textual, organizada por Viviane Malheiro e Karine Menes, ambas Áfricanamente. Foi o momento pra lembrar o que haviamos vivido e discutido nos últimos dias e tentar tranformar em ladainha, quadras ou corridos. O tempo era curto, mas com tanta coisa a ser contemplada não foi difícil produzir coisas boas.







Sexta-Feira – dia 19/03/2010:
É dia de roda na Áfricanamente, mas nesse dia especial, em meio ao evento teve um tema, "O Corpo Fala" e foi coordenada pela Contra-Mestra Dana que nos acompanhou durante a programação de toda a semana. Com a presença de vários mestres e capoeristas de Porto Alegre e da região Metrpolitana
.. Terminando como de costume em Samba de Roda para comemorar e celebrar tudo o que foi feito durante a semana.

Sábado – dia 20/03/2010
Diferentemente das demais atividades do evento, que ocorreram no espaço Áfricanamente Escola de Capoeira Angola, fomos a Comunidade Terreira Ile Axé Iyemonja Omi Olodô para um dia inteiro de atividades ministradas pela Contra-Mestra Dana. Começamos pela manhã com um treino de movimentos, depois foi o momento de, como combinado, compartilharmos o almoço. Pela tarde, tivemos a presença das crianças do Projeto Ori Inu Erê, interagindo conosco a partir de muita capoeira. No fim do dia, fizemos uma roda, pra colocar na vadiação tudo aquilo que aprendemos durante os dias do evento.

Domingo – dia 21/03/2010
Pela manhã nos encontramos na Escola, para uma Oficina de Ritmo com a Contra-Mestra Dana, que teve a oportunidade de compartilhar um pouco do seu jeito de tocar, seguido de muita conversa sobre a música na capoeira. Tava tudo tão bom que nos estendemos no horário, a ponto de termos que nos dirigir para a Roda de Capoeira programada para as 14h no Bric da Redenção sem nem almoçar. Mas valeu a pena, a roda estava muito bonita e não foram poucos os que pararam para contemplar.
... até o próximo Adão, Adão Cadê Salomé, Adão???